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Todos nós deveríamos, uma vez na vida, visitar a igreja onde fomos batizados, a pia batismal, e reviver, com muita intimidade e espiritualidade, o nosso batismo, quando fomos apresentados à Igreja e ela nos acolheu e nos fez povo de Deus. Nada de mais bonito que participar de um batismo e acompanhar todos os gestos e ritos com que uma criança é acolhida no seio da comunidade e começa a fazer parte viva do corpo de Cristo. O que mais gosto no meu ministério sacerdotal, embora o exerça tão pouco, é administrar o sacramento do batismo. Não me canso nunca, infunde-me esperança e alegria muito grande em contemplar os pais, padrinhos que, com alegria, levam seus filhos e afilhados para receber o batismo.
Um dos gestos que acho mais bonitos e comprometedores é quando, no momento do batismo, colocam a mão direita no peito da criança enquanto o ministro pronuncia a fórmula do batismo. É o juramento, não sobre um livro, mas sim sobre o corpo da criança, de educá-la na fé e em todos os ensinamentos do Evangelho. É pena que, depois de adultos, o batismo fica um sacramento estacionário, relegado na memória, mas que não é revivido com entusiasmo cotidiano e não é repensado à luz da vivência do nosso compromisso primeiro com Cristo.
Todos somos povo de Deus. O batismo é chave que nos introduz e nos convida a sermos parte viva da Igreja, é desta preparação inicial que a vida assume novos sentidos. Depois de termos entrado na comunidade, devemos, cada um, descobrir o que o Senhor espera de nós. Nenhum batizado pode permanecer inativo na comunidade, é chamado a assumir a sua missão. O batismo dá uma orientação toda especial à nossa existência humana. Não nos é mais lícito colocar as nossas energias ao serviço dos ídolos nem tampouco ao serviço do mal, chamados a sermos totalmente transparências e ícones de Jesus morto e sepultado ao pecado e ressuscitado pelo mistério da graça, a vida nova.
Do batismo nasce as vocações
Não há dúvida, portanto, de que todas as vocações nascem da fonte batismal e que são nada menos que o florescer da semente recebida no dia do encontro com o Senhor no mergulho do eterno, onde fomos marcados para sempre com o selo da pertença a Deus. Sobre nós, como no batismo de Jesus, o Pai pronunciou as palavras consacratórias de nossa existência: “este é meu filho bem amado, escuta-o”. Somos filhos de Deus e, por consequência, evangelizadores e proclamadores da Boa Nova. Como é belo poder perceber que a Trindade Santa nos possui para sempre, e à medida que crescemos, vamos tomando consciência da nossa identidade cristã.
O batismo nos coloca, necessariamente, contra toda forma do mal e nos leva a escolher o caminho do bem. Sinto-me feliz todas as vezes que sou convidado à renovação das promessas batismais. Essas promessas me encantam e são para mim o primeiro credo explícito que deveríamos rezar, todos os dias, porque, a cada momento, nos encontramos diante das dificuldades que nos impedem de sermos cristãos. Creio firmemente em Deus, a quem decidi e redecido servir com todo o meu ser, minha vontade e amor.
Este amor a Deus me impulsiona, no dia, a saber ver a presença d’Ele em todos os irmãos. Creio, no entanto, também no diabo que, como leoa, ruge sempre à procura de quem devorar. Uma presença do mal que nos oprime a cada instante. Reviver, portanto, o batismo é refazer em tantos momentos da vida a nossa escolha consciente entre o bem e o mal. O batismo não é o sacramento de registro, de arquivo onde o nosso nome está escrito e que vamos procurar quando nos é pedido para outros sacramentos, mas sim é a certeza de que o nosso nome foi escrito no céu.
No batismo, somos convidados à vida cristã
Do batismo surge, portanto, a forma de vida que quero pautar à luz do Evangelho. É a força que consagra e sacramenta todo o meu agir. A maioria de nós não se lembra quando foi batizado, fomos batizados como crianças. Houve um tempo em que não concordava muito com o batismo de crianças, mas, agora, depois de ter amadurecido e ter me deixado tocar mais pela graça do Senhor, acho que não existe nada de mais lógico, normal e criterioso que batizar criança. Nada de mais belo que os pais, que deram a vida humana a uma criança, se sentirem chamados a comunicar-lhe também a vida cristã que eles vivem e em quem eles acreditam.
A pastoral do batismo que vejo por aí – eu não sou pastoralista nem teólogo, não sou nada, mas próprio por isso me posso permitir o luxo de dar palpite e de ser incompreendido no que digo, – é uma pastoral que não leva a quase nada. Um curso de uma hora ou pouco menos ou pouco mais, é só para cumprir normas. Não vai influenciar em nada e não vai ter força de conversão. O batismo deveria ser preparado ao longo de meses, com visita na família, com catequese para toda a família com encontro vitais e vivos. Seria necessário, pelo menos, ler, meditar e estudar o que diz o Catecismo da Igreja católica sobre o batismo para que uma nova visão estivesse presente. Mas estamos muito longe disso, há uma preocupação sacramentária e não de conscientização cristã.
A vida do batizado assume tonalidade diferente em tudo o que ele faz, no seu matrimônio, na sua vida profissional etc. Deveríamos colocar, em todos os lugares e bem claro em nós, a frase: sou batizado, pertenço ao Senhor, para que todos possam ver quem somos e de onde vêm as nossas atitudes vitais. Não se envergonhar do nosso batismo e não envergonhar o nosso batismo. Que este ano possamos viver com alegria o sacramento do batismo, aprofundá-lo e levá-lo a sério para nós e para os outros.
Os que pela fé e pelo batismo pertencem a Cristo devem confessar sua fé batismal diante dos homens.(CIC 14)
Fonte: Canção Nova
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